3 de maio de 2014

Divergente [Veronica Roth]



    Há pouco tempo eu sequer queria tocar nos livros de Divergente por motivos meio, bem, idiotas. Na verdade, eu acreditava piamente que Divergente era uma trilogia "genérica" de Jogos Vorazes, como muitos leitores me disseram, e que seria praticamente uma cópia-cola disfarçada com uma politicagem relativamente fraca (porque, se comparado com a politicagem e temas sociais de Jogos Vorazes, seria difícil fazer algo bom ou parecido). Por isso, eu pensava que não valia à pena ler porque, bem, eu tinha mais o que fazer.

    Porém, duas coisas me fizeram entrar nesse mundo de facções e divergentes. Uma delas foi um spoiler gravíssimo que eu peguei de Convergente (HUAHUAHUA) sobre o final do final, e isso me deu uma vontade tremenda de começar a ler (eu sou meio doida, me julguem). Porque quando eu soube do final do final, eu fiquei: "gente, não é que essa trilogia ""genérica"" me surpreendeu? Quando eu iria imaginar que...?", enfim. O segundo motivo é que eu me chamo Beatriz (e Beatrice é mais ou menos uma derivação do meu nome - ou ao contrário, eu nunca lembro), e uma amiga minha disse que começaria a me chamar de Tris porque era um apelido diferente (ninguém nunca me chamou de Tris, apesar de Divergente estar a todo vapor e a protagonista ter um nome muito parecido com o meu). E eu me senti minima e ridiculamente mais próxima à trilogia (HAUHAUHAUHUAHUA eu disse que era doida. Isso é coisa de aquariano).

    Assim sendo, tomei vergonha nessa minha cara - como eu postei no instagram - e peguei meu livro de Divergente para começar a ler... E adorei, eu realmente gos... Acho melhor eu colocar a sinopse e informações antes de me empolgar.

    Cortem suas mãos e deixem o sangue escorrer em suas facções, porque vamos mergulhar no mundo fantasticamente incrível de Divergente.

"Numa Chicago futurista, a sociedade se divide em cinco facções – Abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição – e não pertencer a nenhuma facção é como ser invisível. Beatrice cresceu na Abnegação, mas o teste de aptidão por que passam todos os jovens aos 16 anos, numa grande cerimônia de iniciação que determina a que grupo querem se unir para passar o resto de suas vidas, revela que ela é, na verdade, uma divergente, não respondendo às simulações conforme o previsto.
A jovem deve então decidir entre ficar com sua família ou ser quem ela realmente é.
E acaba fazendo uma escolha que surpreende a todos, inclusive a ela mesma, e que terá desdobramentos sobre sua vida, seu coração e até mesmo sobre a sociedade supostamente ideal em que vive."

Autor: Veronica Roth.
Editora: Rocco.
Trilogia: Divergente.
Ano dessa edição: 2012.
Ano do lançamento: 2011 (EUA); 2012 (Brasil)
Número de Páginas: 501 (livro termina em 500)
Minha nota no Skoob: 4/5


    Como fica claro na sinopse, nós temos aqui uma distopia. Após alguns eventos (que não são mencionados neste livro), nós temos essa Chicago futurista que é dividida nas cinco facções aparentemente ideais. Cada uma culpou um fator da sociedade pelo que aconteceu com o país, cada uma mira alguma coisa e exige algo de seus participantes. Como é o caso da facção original de Beatrice, minha quase xará Tris, que culpou o egoísmo de cada um, a "cegueira" e falta de auxílio ao próximo e que visa em seus integrantes o altruísmo, esquecer a si mesmo para se entregar totalmente às necessidades dos outros. Isso prega a Abnegação, cujos membros são apelidados "carinhosamente" de Caretas e que usam somente roupas cinzas.

    Claro que cada facção culpou algo diferente (a Erudição culpou a ignorância, a Audácia culpou a covardia, a Amizade culpou o individualismo e a Franqueza culpou a mentira e a falta de honestidade dos povos), e prega coisas diferentes (respectivamente, a busca pelo conhecimento; a coragem; a amizade e felicidade e a honestidade), por isso temos facções diferentes, com hábitos diferentes, testes diferentes e, obviamente, membros de comportamentos e mentalidades muito diferentes.


(Cara, esse livrinho é tão fofamente compacto! Eu sou apaixonada por ele justamente por ser tão robusto e compacto)

    Isso fica claro logo no começo do livro, com a narração meio parada de Tris. Confesso que no começo eu não conseguia me interessar muito pelo livro, pois a Tris era algo meio... Cinzento - justamente como todos de sua facção - e que meu interesse se voltou totalmente para os membros da Audácia, conhecida pelas outras facções como "doida, sem limites, rebelde até a última raiz do cabelo". Quando a menina narra os modos de cada facção (como as roupas, por exemplo), eu achei tudo aquilo simplesmente interessantíssimo! Era muito divertido ver como todos os membros da Franqueza usavam blusas brancas e calças negras, ou como todos da Audácia pulavam do trem em movimento (meio arriscado mesmo, mas deve ser divertido) ou como membros da Erudição são traças de livros.

    Aliás, é no meio disso tudo que eu penso na política. Nesse começo de narrativa não é muito notável, mas com o passar da história fica relativamente clara o exagero de cada facção. O exagero que Tris nos mostra indireta e sutilmente a cada página e capitulo, aquele exagero que faz os membros da Abnegação, por exemplo, serem todos sem personalidade, que faz os membros da Audácia serem tão orgulhosos a ponto de arriscarem a própria vida inconsequentemente só para provarem a tal "coragem". São pequenos exageros embutidos na história que são questionados pela garota (como a tal coragem), porque eles não são tão óbvios, não são visíveis. A coragem é diferente para cada pessoa, e se manifesta de modos diferentes também.

    Acredito que isso me fez enxergar que Divergente não era apenas uma trilogia para "passar o tempo", como muitas séries são, na verdade. A trilogia conta com uma história por trás, algo mais sério, algo que nos mostra claramente, através de uma situação futurista e distópica, como o ser humano é exagerado em seus próprios sentimentos e como é importante o questionamento sobre si mesmo. Como não se deve acreditar em tudo o que o Estado fala, e em tudo o que, especialmente, vemos desde pequenos. Afinal, as maiores mentiras estão embutidas nos pequenos detalhes cotidianos.

(Também gostei da fonte e dos "Capitulos" e a diagramação)

    Mas claro que o foco da trilogia não é somente esse. Temos aqui uma garota adolescente, com seus hormônios a flor da pele e... Sério que uma trilogia infanto-juvenil em 300 (350?) páginas fala sobre sexo, deixa isso claro como água e explícito como sempre foi? Confesso que isso também me pegou de surpresa porque eu estava acostumada a trilogias sérias, mas ainda assim infanto-juvenis de verdade. Dessas que um beijo mais ardente é muito para a editora e o resto precisa ser cortado (como aconteceu com A Casa de Hades, aliás, de Rick Riordan: havia uma cena de sexo, mas a Disney - editora americana que publica Riordan - proibiu a publicação dessa cena no livro). E foi uma surpresa pra mim ver a mocinha no colo do outro, o medo do sexo, essas coisas que são tão comuns mas tão raras em livros adolescentes.

    Acho que, finalmente, as editoras enxergaram que quem lê esse tipo de "livro infanto-juvenil" não é mais tão infanto-juvenil assim. O que é um alívio, porque esse tipo de coisa um ar maduro para uma série de distopia, uma suposta fantasia, com facções e Divergência mental.

    Claro que essa não foi a única coisa que me surpreendeu. Também devo comentar sobre a evolução da própria Tris que, na metade do livro, já está irreconhecível! Até mesmo sua narração muda, conforme ela muda de "personalidade" e jeito. Isso é um ponto positivo, porque faz o leitor literalmente acompanhar a protagonista, ele realmente está perto dela e sente suas mudanças. Eu gosto desse tipo de coisa (que pode ser observado, por exemplo, nas narrações de Percy Jackson, protagonista de uma série do Rick Riordan e principal de outra série seguinte. A mudança da narração do menino é evidente: de infantil para algo próximo ao maduro).

(Deuses, gente, esse livro é muito lindo! A capa é linda demais, e eu adorei o "slogan": "Uma escolha pode te transformar". Adorei!)

    É engraçado como é inevitável pensar de qual facção você seria. Afinal de contas, aos 16 anos obrigatoriamente a pessoa tem que passar por todos aqueles testes e tudo mais, e precisa escolher se continua na facção de sua família ou se... Parte e nunca mais os vê novamente. Escolha difícil, dependendo do seu sentimentalismo ou amor familiar. De uma forma ou de outra, o leitor fica pensando: "poxa, eu acredito que iria para Erudição porque isso, isso e isso" ou então: "acho que eu seria divergente entre Amizade e Abnegação, porque isso, aquilo e aquilo outro".

    Eu mesma passei por isso, e fico imaginando se eu iria para Audácia ou Erudição. É algo muito engraçado de se observar, e de se imaginar também!

    Eu fico especialmente ansiosa para começar a ler Insurgente por conta dos acontecimentos finais de Divergente. Confesso que pequenos detalhes me inquietaram um pouco (porque acabaram meio forçados), mas outros fizeram todo sentido e resultaram em coisas fantásticas. Aliás, preciso comentar que simplesmente adorei a frieza de Veronica para com seus personagens (bem parecida com George R. R. Martin, aliás), porque ela faz o que é necessário para o livro, e não o que o coração dos leitores - ou o seu - pede. Isso é legal. Isso é ser ousado, arriscado e lógico. Gosto disso.

    Bem, o livro é fantástico, de verdade. Eu adorei sua formatação, seu jeitinho compacto e robusto (acho esses livrinhos de Divergente tão lindos justamente por serem tão compactos), adorei o símbolo na capa e o desenho da capa, em si (simplesmente lindo e chamativo!). Espero ler Insurgente em breve, e volto logo mais com nova resenha para vocês.

    Até breve,

    Ana


4 comentários :

  1. Nossa que resenha! Gostei do modo como você expôs sua visão do livro e sobre essa questão de ficar se imaginando em qual facção estaria, acho que todos que leram o livro ficam pensando nisso rsrs.
    Abraços

    estantejovem.blogspot.com.br

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    1. Olá, Paulo!

      Poxa, obrigada, hahaha, eu tento sempre expor meus pensamentos e visões de um modo bem claro e direto. E eu realmente estou em dúvida se iria para Audácia ou Erudição.

      Obrigada, de novo, e que bom que gostou! :D

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  2. Preciso dessa série! Eu nem estava tão empolgada assim pra lê-la, mas os comentários que estou vendo do filme me fez querer ler muito este livro, e agora sua resenha tbm ;)

    xoxo
    http://amigadaleitora.blogspot.com.br

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  3. Olá! É, pois é! Eu pretendo ver o filme logo para escrever uma resenha sobre ele, já que ouvi tantos comentários positivos sobre a adaptação.

    Fico feliz que minha resenha também tenha feito você sentir vontade de ler o livro! :D

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