10 de maio de 2014

Sob o Olhar das Erínias [Gian Felipe & A. Henrique]



    E mais uma resenha para vocês, leitores queridos. Dessa vez, o livro é sobre mitologia também, mas numa vertente muito diferente do que a maioria está acostumada (especialmente quem só conhece mitologia grega através de Percy Jackson). Esse livro trata sobre a Wicca, Deuses e nossa relação com o mundo e com nós mesmos.

    Fatalmente, fica claro que esse livro prenderia a atenção de qualquer um não somente pela sinopse ou pela história fantástica, mas também pela capa! Como eu comentei antes, eu amo essa imagem (era o wallpaper do meu celular), e não pude deixar de me encantar com a capa!

    De qualquer forma, estejam bem preparados para conhecer esse mundo fantástico e muito desconhecido, para alguns, cheio de magia e divindades.

"Até onde você seria capaz de chegar por vingança? Arthur, um jovem Wiccano, mal voltara a sua antiga escola na pequena Vila Elza, logo tornou-se amigo da explosiva Agnes Carvalho. Mas ao descobrir que ela era a namorada de Cristhian, com o qual possui amargos ressentimentos, não tarda em usar a garota para vingar-se dele. Porém como tudo que fazemos de bom ou de ruim, cedo ou tarde, retorna para nós, Arthur pagará um alto preço por permitir que a escuridão tomasse o seu coração. Um preço que não pagará sozinho... E tudo isso Sob O Olhar das Erínias,as Senhoras das Retribuições!"

Autor: A. Henrique & Gian Felipe
Editora: Clube dos Autores.
Ano dessa edição: 2010.
Número de Páginas: 162.
Minha nota no Skoob: 4/5

    Como lemos na sinopse, Arthur é um garoto que segue uma religião muito diferente do que estamos acostumados a ver; é um jovem Wiccano. E isso que é, logo de cara, o grande diferencial desse livro inteiro. Afinal de contas, não é todo dia que vemos um protagonista Wiccano num livro lotado de magia e divindades - preferencialmente - gregas.

    Preciso admitir que isso chamou minha atenção, já que sempre fui muito próxima à Wicca - apesar de minha religião ser outra - e sempre gostei muito de ler sobre seus princípios e cultos - que são meio parecidos com os meus. E ver um protagonista wiccano tendo que lidar com Deuses Gregos de um modo tão... Natural e real me fez gostar muito de estar presente na história.


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    Talvez muitas pessoas não conheçam a Wicca e seus princípios, ou sobre o que ela fala especificamente, por isso eu explicarei brevemente sobre a religião: é politeísta, pois cultua mais de um Deus ou Deusa, e tem como "Deuses" o Deus e a Deusa que podem se manifestar em qualquer deidade existente - normalmente, temos uma pequena mistura de panteões (grego, romano, egípcio) o que me incomoda um pouco, pois eu não curto muito mistura de panteões (especialmente grego com romano). De qualquer forma, a Wicca - assim como 90% das religiões existentes - propõem simplesmente uma relação boa e sincera com a natureza, com o outro, conosco e com os Deuses. Algo que todas as religiões propõem, no final das contas.

    Infelizmente, claro, muitas pessoas realmente enxergam a Wicca como uma religião satânica e vêem seu símbolo (o pentagrama) como algo ruim, maléfico, sendo que o sentido dele é totalmente diferente. Preza o equilíbrio. E as pessoas não têm noção disso - uma pena.

    Aliás, preciso evidenciar que esse não é um livro "para converter pessoas à Wicca"! Até porque, bem, confesso que nunca vi ninguém da Wicca tentando converter ninguém no meio da rua, mas de uma forma ou de outra, apenas queria enfatizar esse fato: o protagonista é wiccano, assim sendo, a Wicca está presente em sua vida. O que é natural, oras bolas.

    Ainda falando sobre isso, deveria comentar que muitas vezes vi a religião de Arthur com fortes influências Helênicas. Mas não sei dizer se na Wicca há divisões de panteões ou se, enfim, wiccanos "helênicos" seguem mais ou menos os mesmos rituais que os helênicos (ou reconstrucionistas helênicos, como eu). E, novamente, caso vocês não saibam, a religião Helênica era a antiga religião da Grécia Antiga (a "mitologia grega") e muitas pessoas, hoje em dia, ainda seguem tais princípios. Essas pessoas normalmente se dizem "afilhadas" de algum Deus ou Deusa e seguem seus rituais e são intimamente ligados a eles (para explicar melhor, eu precisaria me aprofundar muito mais na religião Helênica, e isto aqui é uma resenha, não um post sobre "O Helenismo" rs. Mas, caso queiram saber, sou afilhada de Atena) e isso é uma coisa muito séria. É uma religião de verdade e merece respeito como todas as outras (digo isso porque muitas pessoas ficam de brincadeira e são grosseiras com 'helênicos', achando que pela religião ser antiga e já transformada em 'mitologia' e filmes da Disney, não merecem respeito. Uma pena, de verdade).

    De qualquer forma, sem mais delongas, essa é uma parte - constante - muito boa no livro, porque nos mantém próximos a algo diferente e exótico (eu mesma que apesar de conhecer um pouco da Wicca, não sabia extremamente tudo, me senti bem curiosa e interessada em aprender!) e que tem um gostinho diferente. Gian e Henrique nos mostraram outras visões dos Deuses.

    E se os fãs de Percy Jackson me permitem... Mostraram uma visão finalmente correta dos Deuses. Obrigada, Atena, estava cansada daquela mitologia moderna pacatamente errada do Riordan ¬¬

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    Mas é claro que o livro não é somente um debate religioso sobre wicca e helenismo. Na verdade, o livro é um debate sutil sobre muitos temas. Eu simplesmente amei diversas passagens da história sobre crueldade, egoísmo e outros temas. De fato, eu prefiro livros que me façam refletir, pensar ou que me forneçam algum tipo de conhecimento, assim sendo, Sob o Olhar das Erínias se encaixou perfeitamente porque muitas partes eram sutis e importantes, falando sobre como nós, humanos, achamos que somos superiores aos outros animais.

    E, fala sério, eu sou bióloga consciente. Essa parte dos humanos egoístas e egocêntricos tocou meu coração "verde".

    Voltando a falar sobre a história, nós temos uma trama muito bem bolada e pensada. Os dois meninos deixam claro com a escrita impecável e com as descrições poéticas que a história foi pensada com cuidado e com carinho e que cada detalhe foi revisado para poder dar aos leitores uma história tão bem feita e incrível. Os personagens são bem montados e são profundos, apesar de simples.

    Aliás, essa é uma das coisas que eu adorei na história. Personagens simples, mas profundos. Arthur é um afilhado de Afrodite - a Deusa do Amor, da Beleza e do Desejo - que, como todo bom afilhado da nossa Deusa mais linda do Olimpo, preza o amor acima de tudo, a gentileza ao outro, o carinho, a compreensão. Um garoto bom que pode parecer superficial ou clichê narrado a esse ponto, mas que também é arrogante e acha que por ser wiccano é superior ao outro que não conhece absolutamente nada dessa nova religião - essa foi uma coisa que me fez não gostar muito do Arthur. Como a boa afilhada de Atena que sou, prezo o conhecimento acima de tudo e apesar de não ter muita paciência para tal, eu também prezo a passagem do conhecimento e fico feliz ao ver que alguém tem interesse no que eu sou, no que eu prego. Mas esse também é um erro comum de afilhados de Atena: arrogância.

    A história é muito bem montada, e conta com descrições e explicações interessantíssimas sobre os Deuses por partes dos meninos (acho que talvez mais por parte de Henrique, que soube ser um reconstrucionista helênico). Aliás, uma coisa que li na história e achei maravilhosa foi o fato de usarem os textos que indicavam Hades como um dos Olimpianos (tendo, assim, 13 Olimpianos).

    É sabido por estudiosos que a mitologia grega nunca é uma só, e isso que a torna tão interessante. Há diversos textos e poemas antigos, e cada um toma uma vertente meio diferente. Há os que dizem que havia apenas a ambrosia, e há os que dizem que o néctar seria ambrosia líquida, e há aqueles que dizem que um é diferente do outro. Assim como há uns que alegam somente 12 Olimpianos - incluindo aqui Dionísio e já retirando Héstia - e outros que alegam 13 Olimpianos, incluindo Dionísio E Hades, Senhor do Mundo Inferior e das Riquezas do mesmo. Eu gosto desse tipo de coisa, gosto de ver que eles têm noção de que uma coisa nunca é a mesma, que muda, que varia de texto para texto. ISSO é bom.

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    Bem. A escrita deles é muito agradável de se acompanhar, e a história, apesar de ter um lado cheio de magia, é muito verdadeira e sincera. Cheia de emoções, dramas psicológicos - que eu, como amante da Psicologia, simplesmente adorei - e Deuses. Quero dizer, nada como Percy Jackson, mas algo real, algo verídico, algo que mostra os Deuses quem eles realmente são, que mostra a relação de uma pessoa que acredita neles e faz rituais antes de comer. Deuses como eles devem ser, sem semideuses, sem profecias, sem minotauros e névoa.

    Realidade  na ficção. E eu simplesmente amo isso.

    O livro é um dos mais interessantes que eu li, e admito que apesar de não curtir muito a mistura de panteões e Deuses, eu até penso em ler um pouco mais sobre a Wicca. Eu não sei dizer sobre as páginas e folhas, pois li em PDF, mas aparentemente a fonte era muito boa e os títulos de capitulos bem espaçados e formatados.

    Vale muito à pena ser lido - e não falo isso por serem meus parceiros de blog!! Eu realmente adorei a história!

    Volto em breve com uma nova resenha,

    Ana

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