1 de maio de 2014

Os Versos Satânicos [Salman Rushdie]



    Alguém já ouviu falar desse livro? Não? Pois então acho que eu deveria apresentá-lo a vocês: Os Versos Satânicos foi escrito por Salman Rushdie em 1989, e deu ao Salman uma sentença de morte, prêmios em dinheiro pela sua cabeça (6 milhões, mais especificamente falando), além de alguns tradutores orientais terem morrido somente por terem realizado a tradução da obra para Japonês, ou outras línguas, assim como um editor Norueguês.

    Mas por que tantas coisas horríveis só por causa de um livro? Pois bem, acontece que este livro não é somente um "livro com um título relativamente diferente do comum", na verdade, esse livro critica fortemente a religião Islâmica, assim como o Profeta Maomé, Alah e outros conceitos islâmicos. Além de fazer metáforas e críticas por trás de nomes e fatos mencionados na "ficção" do livro. Por trás de toda uma 'história criada e aparentemente fantasiosa', Salman conseguiu criar todo um rebuliço na religião Islâmica e foi graças a isso que o Aiatolá Khomeini o condenou à morte, alegando que "o autor do livro Versos Satânicos, é contra o Islão Profeta e o Qur'an, e todos aqueles envolvidos em sua publicação estão cientes de seu conteúdo" [trecho retirado da Wikipedia.com].

    Os Versos Satânicos pode se caracterizar como um dos livros mais polêmicos - se não o mais polêmico - das últimas décadas! É um livro que faz críticas pesadas e que, em muitas partes, me fez pensar: "Uau, esse cara é genial e louco. Genialmente louco".

    Sejam bem-vindos ao livro mais polêmico do mundo, sejam bem-vindos ao mundo de Salman Rushdie:


"Neste romance vigoroso, que rendeu a Salman Rushdie um Whitbread Prize e uma sentença de morte promulgada pelo aiatolá Khomeini, o consagrado escritor narra a história de dois atores indianos que se metamorfoseiam, um em diabo e outro em anjo, depois de caírem de um avião atacado por terroristas.

Muitas coisas opõem e associam os acidentados: um é apolíneo, o outro dionisíaco; um é apocalíptico, o outro integrado; um é apegado à origem, o outro está decidido a conquistar nova nacionalidade. Transitando livremente entre o real e o fantástico, entre o bem e o mal, entre a infinidade de opostos complementares e inconciliáveis da vida, este romance alegórico é claramente autobiográfico, especialmente em sua questão filosófica central: quem sou eu? Ao fazer essa pergunta, o indiano Rushdie parece buscar uma ponte entre extremos, a conciliação dos opostos, uma resposta para a vida. Seus Versos satânicos transcendem o problema específico do emigrado que flutua entre culturas para aplicar-se a todos os cidadãos de um mundo dilacerado"


Autor: Salman Rushdie
Editora: Companhia das Letras.
Ano dessa edição: 2010.
Ano da edição original de Verne: 1989.
Número de Páginas: 597 (livro acaba em 586)
Minha nota no Skoob: 5/5

    Muito bem, como já foi dito acima na sinopse esse livro fala sobre dois homens que estão caindo de um avião: dois atores indianos, que vivem o drama de se metamorfosearem em um demônio e em um anjo. Na realidade, a profundidade do livro já começa nesse toque sutil de escrita de Salman. Não temos somente um ator indiano ou dois atores, temos um homem que perdeu sua fé, que não é o melhor "exemplo", diga-se de passagem, e que meramente é transformado em anjo - Gibreel Farishta. E temos o outro, que é um homem tentando ser seu melhor, tentando mostrar sua melhor imagem, sua melhor aparência, sua devoção a uma terra que nunca lhe pertenceu e que nunca lhe quis; este é Saladin Chamcha, o demônio. 

    Mas, claro, não temos somente o "demônio" ou o "anjo". Nós temos aqui Shaitan, que em hindi significa "Satã" e temos o Arcanjo Gibreel, o arcanjo que transmitia as mensagens de Aláh para Maomé, o profeta islâmico, o que anunciava os versos divinos. Não são somente duas personalidades fictícias fantasiosas, temos duas personalidades religiosas e mitológicas misturadas numa teia de metáforas inegável.

    E logo de cara tal metáfora fica relativamente clara: o bom vira mau, o mau vira bom. Mas será que é somente isso? Será que essa é a única mensagem inicial de Salman? De fato, é óbvio que nada é tão simples quanto parece e é preciso se tocar de que cada palavra, cada mínima virgula representa algo.


(Colocando a cara para bater - e a cabeça para cortar, q - Salman lançou, em 1989, Os Versos Satânicos, livro polêmico que contém graves críticas sobre a religião Islâmica)

    A estrutura do livro é muito boa, a fonte e a página, inclusive. Temos páginas finas e delicadas, frágeis - as mesmas da edição especial de colecionador de Os Miseráveis - e que precisam de um cuidado especial na hora de passar de página. Afinal, podem rasgar a qualquer movimento brusco. Além do que, a fonte é pequena, bem pequena, e se mistura muito bem às folhas meio "bege".

    O livro é dividido em nove partes, que são: "O anjo Gibreel"; "Mahound"; "Eleoene Deoene"; "Ayesha"; "Uma cidade invisível, mas não vista"; "Retorno a Jahilia"; "O anjo Azraeel"; "A abertura do Mar da Arábia"; "A lâmpada maravilhosa".

    Talvez para quem não conheça muito da religião islâmica - como eu - as metáforas e "cutucadas" não estão tão visíveis, mas uma dessas 'cutucadas' que eu posso mostrar sem dar spoiler é o nome da segunda parte: Mahound. Mahound é um termo pejorativo antigo para Maomé. Ou seja, ao invés de colocar "Maomé" como qualquer pessoa faria, Salman usa o termo pejorativo do Profeta Islâmico. Genial, porém louco.

    Quem, em sã consciência, escreveria um livro assim, com críticas e "cutucadas" muitas vezes escancaradas no meio do Oriente médio? Pra quem não sabe, Salman era de Mumbai (antigamente conhecida como Bombaim).

    Na verdade, muitas dessas críticas eu ainda não consegui perceber por um fato simples, bem simples: não li o livro em sua língua original e não conheço profundamente a religião Islâmica. O que significa que, por si só, o livro tem muitas ""piadas internas"", ou seja, Salman escreve muitas coisas e faz críticas que somente pessoas do Oriente ou que entendam bastante do Islamismo possam compreender. Ainda assim, muitas críticas graves são bem escancaradas e deixam qualquer leitor boquiaberto.

(Mahound. Quão ofensivo é pra um Islâmico ler esse nome num livro? Quão ofensivo seria para ele ler todas as coisas que estão implícitas sobre o profeta Maomé?)

    Mas eu preciso deixar claro que esse livro não é pra qualquer leitor. O que quero dizer com isso?

    O livro é realmente muito bom. Muito bom de verdade. A escrita de Salman é algo fascinante, algo que conecta uma teia na outra muito parecida com a de Victor Hugo (mas sem toda a poesia e "voltas" de Victor, que tanto me encantaram), é algo muito bom, muito instigante, mas... Para alguns leitores pode parecer cansativo e confuso.

    Durante a narrativa, não acompanhamos somente a história de Gibreel e Saladin em suas Desventuras em Série. Nós lemos também sobre Mahound e seu grande problema e dilema com as religiões politeístas, lemos sobre a peregrinação até o mar que "supostamente seria aberto" para a passagem dos fiéis, lemos sobre a loucura e sobre várias outras pessoas. Isso tudo porque como Arcanjo Gibreel tem diversas espécies de "visões" e sonhos que retratam todas essas situações (especialmente as que são relacionadas com Alah, com o islamismo, com os fiéis, enfim. Todas essas coisas islâmicas e religiosas estão com Gibreel e sua cabeça conturbada).

    E além de ter que se organizar mentalmente e cronologicamente com todas essas histórias "paralelas" de fiéis, peregrinação, Mahound, esposas de Mahound, etc, etc, ateísmo, etc, etc, muitas coisas que não direi porque acabarei dando spoiler, o leitor ainda tem que se concentrar na própria narrativa, pois Salman gosta muito, muito mesmo, de divagar enlouquecidamente, e fazer citações, e no meio das citações comentar alguma coisa, e no meio disso contar alguma história, e estar em outro lugar, em outra cena, com outra pessoa. No começo da história essa foi minha maior dificuldade. Eu não conseguia me concentrar muito bem, e não estava adaptada com o nível de escrita da história, e nem com o nível da história, em si. Foi uma adaptação relativamente demorada e difícil, mas aos poucos me acostumei e fui seguindo em frente.

    É preciso ter em mente, então, que esse livro não é para qualquer leitor pelo simples fato de que ele requer muita concentração, talvez um pouco conhecimento sobre o islamismo (li uns poucos artigos na internet antes de começar a leitura), já que as críticas são sobre a religião, então, seria algo meramente inteligente a se fazer, e também mente aberta. Digo isso de cara, pois se você não tem mente aberta e não aceita que um autor critique Aláh, Maomé, o Arcanjo Gibreel e diga com praticamente todas as letras que, talvez, Satã seja melhor do que os três juntos, então nem chegue perto deste livro. Ele fala sobre isso, fala sobre a religião, fala sobre como nós usamos a religião para ter um pouquinho de esperança e fala que, na maior parte das vezes, a religião é infundada, que não há Deus algum, que Maomé - ou deveria dizer Mahound? - não é nada além de um suposto hipócrita.

    Será? Bem, o livro tem diversas interpretações diferentes, na verdade. Para mim, as críticas foram extremamente pesadas (e algumas extremamente suaves), e não perdoaram nem Aláh e nem ninguém. Para mim, nenhuma palavra perdida - ou escondida - nas entrelinhas escapou de meu olhar e de meu entendimento. E pra você?

(um dos livros mais polêmicos de todos. História fantástica e escrita maravilhosa. Eu só recomendo pesquisar antes sobre o Islamismo para entender um pouco melhor as críticas e "cutucadas" de Salman)

    Os Versos Satânicos é um dos livros mais polêmicos das últimas décadas, penso eu, e não foi por meia dúzia de palavras que Salman ganhou uma sentença de morte! Tenham em mente as críticas, claro, mas também tenham em mente que esse livro conta uma história fabulosa, com detalhes ricos, com finais ESPETACULARES que conseguiram me deixar boquiaberta (e isso é raro!!!). É uma história fantástica, acompanhada de muitas histórias, com muitos personagens interessantes.

    É um livro que vale à pena ser lido e que (vejam como ele é bom!) na metade da leitura conseguiu ganhar o posto de 'favorito' no meu skoob. E isso é difícil! Só aconteceu uma vez com um livro (Os Miseráveis) e com uma autora (Lionel Shriver, que com Precisamos Falar Sobre o Kevin ganhou o posto de autora favorita).

    Espero que vocês tenham curtido a polêmica, a história e as críticas e sigam minhas dicas! Se quiserem ler, pesquisem um pouquinho sobre o islamismo, sobre quem foi Maomé e sua importância para os islâmicos e tudo mais. Você não entrará "em branco" na história e entenderá muito mais sobre as críticas e "cutucadas".

   Vejo vocês em breve com a resenha de Divergente, primeiro livro da trilogia de Veronica Roth,

    Até breve,

    Ana.

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