24 de maio de 2014

Convergente [Divergente] - Veronica Roth



    E chegamos ao fim de uma trilogia. Dá uma sensação tão estranha quando isso acontece, não? Sempre que chegamos ao fim, nos damos conta de que, bem, este é o último livro, com os últimos capitulos e as últimas falas de todos os personagens que aprendemos a amar, aguentar e odiar durante tanto tempo. E sempre dá aquela nostalgia de "começo de último livro", quando pensamos: "poxa, lembra quando, em Divergente, a Tris pulou primeiro?" ou então "nossa, o Tobias era muito estranho e misterioso em Divergente!" e coisas do gênero.

    Confesso que, apesar de ser uma sensação estranha, eu gosto muito dela porque é a sensação de 'dever cumprido'. Cheguei ao final de mais uma trilogia, estive o tempo inteiro com os personagens e agora eu estou pronta para deixá-los ir embora. É aquele momento que eu saboreio mais as palavras da autora justamente porque sei que serão as últimas e também... Porque preciso saber se o final foi decente, bem escrito, se fez sentido com a história e se foi um final condizente com todo o clima anterior à história (não adianta nada a história inteira ser incrível e o final... Uma bosta. Tipo todos os finais de novela da Globo. Se bem que, bom, elas nunca foram realmente incríveis ou boas).

    E acredito que Convergente tenha suprido todas as necessidades vorazes dos fãs da trilogia e tenha superado as minhas expectativas porque, nossa, o final foi... Surpreendentemente chocante e inesperado. De qualquer forma, vamos à resenha!

"A sociedade baseada em facções, na qual Tris Prior acreditara um dia, desmoronou – destruída pela violência e por disputas de poder, marcada pela perda e pela traição. No poderoso desfecho da trilogia Divergente, de Veronica Roth, a jovem será posta diante de novos desafios e mais uma vez obrigada a fazer escolhas que exigem coragem, fidelidade, sacrifício e amor. Livro mais vendido pela Amazon no segmento infantojuvenil em 2013, Convergente chega ao Brasil em meio à expectativa pela estreia de Divergente nos cinemas, em abril. A série segue no topo na lista de bestsellers do The New York Times."

Autor: Veronica Roth.
Editora: Rocco.
Trilogia: Divergente.
Ano dessa edição: 2014.
Ano do lançamento: 2014
Número de Páginas: 526 (termina em 519).
Minha nota no Skoob: 5/5

    Muito bem, queridos leitores. Vocês já vieram com toda a bagagem de Insurgente e Divergente, conhecendo muito bem nossa protagonista extremamente altruísta e corajosa, e toda a situação misteriosa que a cerca. Assim sendo, acho que precisamos de somente uma pequena retrospectiva "Insurgente" para nos encaminharmos de verdade para esta resenha de Convergente.

    O último livro se voltou todo para a questão psicológica de Tris, sobre ela ter matado seu grande amigo Will (que estava na simulação criada pela Erudição), ter ficado numa 'bad' pela morte dos pais e também temos a questão de Caleb, seu irmão fugido da Erudição que parece bem maluco de vez em quando. A capa dá uma bela dica sobre qual facção será explorada em Insurgente, e claramente nós aprendemos e conhecemos muito mais sobre a Amizade, sobre seu "soro da paz", pão e muitas outras coisas.

    Claro que em Insurgente não poderia ter faltado aquela dose de "altruísmo" sem noção da Tris, e nele nós acompanhamos a menina Divergente se entregar para Jeanine para que as simulações do povo normal pudessem acabar, finalmente, e assim a garota cavou sua própria cova: Jeanine queria matá-la, após estudar seu cérebro. E como um ratinho tolo, Tris ficou aprisionada e foi levada à sua própria execução por seu irmão, Caleb.

    Por sorte, Tobias tinha um belo plano e "infiltrado" na Erudição, com 'amigos' lá dentro, teve a ajuda de Peter para fingir a morte de Tris, trocando o soro da morte por outro soro de paralisia tingido de roxo, e salvá-la do perigo. Após isso, temos a tomada do poder por Evelyn, mãe de Tobias e líder dos sem-facção, e a infiltração paralela de Tris e seu grupinho que precisam descobrir qual era a informação que a Abnegação protegia e queria, finalmente, falar para cidade quando seus líderes foram assassinados.

    Afinal de contas, o grupo de Tris obtém sucesso - não sem algum morto, claro - e quando Tris finalmente invade a sala de Jeanine (após passar por Edward), ela precisa salvar a líder da Erudição de Tori que, infelizmente, consegue matar a erudita. Ainda por cima, Tris e o grupinho são levados "presos" como traidores. No final do livro, Tobias consegue expor a informação que Jeanine e a Abnegação estavam 'protegendo' para toda a cidade, e todos eles descobrem que do lado de fora da cerca há alguma coisa e que uma mulher se transferiu para dentro de 'chicago', admitindo o nome de Edith Prior.

    O que há do lado de fora da cerca?


    E finalmente começamos a leitura de Convergente, muito curiosos para saber exatamente o que existe do lado de fora da cerca, um mistério que foi especialmente colocado por Veronica Roth no começo de Divergente - caso não se lembrem, Tris realmente mencionou que 1) achava estranho que a tranca da grade estivesse do lado de fora, como se eles estivessem presos e 2) a Tris também mencionou que ninguém sabia o que havia do lado de fora da cerca, e que era proibida a saída do povo de Chicago - e que ficou "por alto" até Convergente.

    Devo admitir que essa tática foi realmente muito boa, e fez o leitor realmente prender sua atenção ao livro. Quero dizer, aposto que muitos leitores estavam preocupados com a iniciação da Tris, e também com o Tobias, e com toda aquela questão da guerra misteriosa entre facções, para proteger um suposto segredo... Mas alguns leitores, como eu, estavam pensando no que havia do lado de fora da cerca. Algo muito suspeito, algo que era amedrontador e algo que, aparentemente, ameaçava e muito a Erudição! Pois se Jeanine foi capaz de matar os líderes da Abnegação para manter esse segredo...

    De uma forma ou de outra, esse é um dos mistérios que me intrigaram em Convergente. Além, é claro, do novo método de narrativa de Veronica: dupla narração. Agora temos Tobias e Tris narrando a história, e isso me fez refletir brevemente sobre o porquê disso. Por que Veronica colocou outro narrador em Convergente, se o tempo inteiro ela manteve somente Tris? Qual o motivo para Tobias ter entrado agora?

    Logo no início, imaginei que essa dupla-narrativa poderia se dar para 1) ganhar dinheiro, pois muitos leitores estão acostumados de vários narradores diferentes (graças a Rick Riordan, que começou com essa história em O Herói Perdido, primeiro livro de sua saga 'Heróis do Olimpo', e que fez muito sucesso, além de sua outra trilogia, As Crônicas dos Kane, que possui todos os livros com dupla narração - Carter e Sadie Kane), ou então 2) mostrar dois pontos de vista, e assim sendo, ela teria um objetivo. Levando em conta essa segunda opção, acredito que ou Tris e Tobias se separariam - o que poderia não ser uma novidade tão grande, já que em Insurgente as coisas estavam meio... tensas entre eles - ou então eles seriam 'forçados' a se separarem (o que poderia ser causado pela Evelyn, ou a Tris fugiria para o lado de fora da cerca e Tobias precisaria ficar dentro para armar um levante contra a mãe... Não sei).

    A única coisa que era 'certa' para mim logo no início de Convergente era: neste livro conheceremos mais sobre a Erudição, ou sobre algo relacionado a ela. Afinal de contas, o símbolo na capa de Convergente é água, uma onda, que é o simbolo da Erudição.


    Esse livro carrega a mesma dose de sinceridade, honestidade e lógica que os anteriores, e também a mesma dose de 'originalidade' que observamos em Divergente e em Insurgente. A escrita de Veronica Roth - ao menos a tradução, é claro - é muito absurdamente franca e clara, quase como um membro da Franqueza (que conta a verdade, mesmo que ela nos machuque) e, como sempre, ela não tem pena de matar, acabar e desmanchar nossas ideias sobre todos os pontos anteriores dos livros.

    Quero dizer, acho que é bom eu deixar bem claro que nesse livro a Veronica conseguiu desmanchar todo o nosso entendimento sobre as facções, sobre o que é essa Chicago futurista, sobre a própria história da Tris (especificamente da mãe dela, Natalie Prior, que honrou a frase "sangue antes da facção") e sobre a trilogia, em si. Foi fascinante - e meio doido - acompanhar Veronica desmanchando, destruindo tudo aos poucos e, então, jogando em nossas caras o que REALMENTE são as facções, o que realmente são os Divergentes...

    Se você ainda está se preparando para ler Convergente, eu sugiro que comece de uma vez. Tudo o que você "sabia" sobre a trilogia... Desmorona no último livro. Tudo mesmo. Agora não é mais guerra contra Erudição ou sem-facção... Agora a guerra é entre "GD's e GPs". 

    E não, não vou contar o que são essas coisas (risada do mal).

   Na verdade, vou somente comentar que isso foi simplesmente genial. Um toque de mestre. Um toque gélido de uma psicopata. Que é mais ou menos o que a Veronica é: quase uma psicopata! Ela é genial, inteligente e muito, muito estratégica. Isso deu para perceber desde o começo de Divergente, quando ela nos apresentou as facções e todo o sistema aparentemente simples da sociedade de 'Chicago', e quando terminamos de ler Convergente (ou simplesmente chegamos nas grandes explicações), nós percebemos que a trilogia foi meticulosamente planejada, cuidadosamente criada e repensada até ficar perfeita. Até ser madura, adulta e lógica o suficiente para fazer todos os leitores se apaixonarem de cara.


    E eu sei que isso não deveria existir e tudo mais, mas é meio difícil ignorar muitos fãs de Jogos Vorazes e alguns de Divergente que "brigam" entre si sobre "qual das duas é melhor". Na realidade, acredito que as duas trilogias sejam muito boas em 'n' aspectos. E apesar de odiar comparar trilogias (e isso ser meio impossível, na realidade), eu fiz uma pequena comparação mental entre Divergente e Jogos Vorazes.

    Acredito que do ponto de vista 'político', Jogos Vorazes é relativamente melhor que Divergente. A abordagem política da trilogia de Suzanne Collins é impressionantemente maravilhosa, crítica e trágica. Trás muitas verdades políticas à tona, e faz uma incrível comparação com muitas guerras que ocorreram em alguns tempos atrás (mais especificamente a Guerra do Iraque X EUA), e nos faz pensar sobre como seria uma guerra de verdade. Essa coisa psicológica terrível, os abalos mentais que a guerra nos trás... É maravilhoso como ela mostra os abalos que as perdas nos trazem, o peso de ser a líder de uma rebelião - nossa tordo Katniss Everdeen.

    Entretanto, Divergente é melhor do que Jogos Vorazes por tratar muito mais de um aspecto psicológico real. Acredito que a trilogia da Veronica tenha ido muito mais pela vertente da biologia do que sociologia ou política, já que temos toda aquela coisa de GDs e GPs (ainda não vou falar o que são. Vocês teriam que ler Convergente. Sinto muito. Ou não, q), e a própria Divergência em si. Já que, em Insurgente, a Jeanine explica para Tris o que é ser divergente, falando especificamente sobre o cérebro humano, sobre os comportamentos, sobre a fala, sobre a inteligência, etc, etc. E isso é muito mais biológico do que político. Claro que, depois, em Convergente, também temos a questão política da guerra que pode se formar entre tais grupos, etc, etc, mas ainda assim, é muito mais biológico.

    Agora... Acredito que eu tenha "simpatizado" mais com Divergente pelo simples fato de que a história da trilogia pode estar acontecendo agora de verdade. Quero dizer, manipulação genética, meus queridos leitores e amantes da biologia, é algo que acontece, é algo que certamente estará em nossos futuros, e é algo que, oras bolas, pode estar realmente acontecendo na Rússia ou Estados Unidos, ou Japão. Quem poderia saber? Claro que seriam coisas sigilosas, É ÓBVIO, e nunca seriam divulgadas na mídia ou sequer para o povo, mas eu realmente não duvido que a humanidade chegue ao ponto de fazer exatamente o que aconteceu em Divergente (o que já faça). Parafraseando a morte, em A Menina que Roubava Livros, "os seres humanos me assombram".

    Enquanto que a situação de Jogos Vorazes... Acho que é bem mais irreal, ou mais fantasiosa do que Divergente (que trata, mais ou menos, sobre uma guerra baseada em ideias biológicas relativamente exageradas e erradas) e... Arena com 24 adolescentes lutando até a morte num futuro próximo? Acho meio difícil. Por isso prefiro Divergente, somente pelo fato de que a gente tem como colocar a situação que descobrimos em Convergente na nossa realidade. A gente realmente tem. Mas, claro, uma trilogia não se compara a outra, e eu acho as duas realmente muito boas! Maduras e inteligentes, de verdade.

    

    Para terminar, eu gostaria de dizer que nunca me arrependi tanto de ter ignorado uma trilogia por tanto tempo só por ter acreditado nas pessoas que me disseram que era "cópia" de Jogos Vorazes, um genérico mal-feito. Não. Isso é uma mentira deslavada. E isso pode ser aplicado em qualquer saga existente: nunca deixe de ler algo porque alguém lhe disse que é ruim, que é uma cópia... E se você ler e amar? Você só vai saber se a saga é boa, mesmo, se você ler, oras bolas.

    E ainda falando sobre outra coisa. Eu achei essa trilogia muito verdadeira e muito lógica. Claro que eu queria, por exemplo, que a Lynn e Marlene tivessem ficado juntas (caso vocês não lembrem, Marlene se joga de um prédio em Insurgente, por conta da simulação, e Lynn é baleada durante sua simulação e morre revelando ter amado de verdade a Marlene ~ le lágrimas caem ~), mas a vida não é assim. Acho que se Tris tivesse escolhido salvar a Marlene, por exemplo, não teria sido verdadeiro. Se a Lynn tivesse sobrevivido ao tiro certeiro... Também teria sido falso. Se Tris não tivesse ido à sede da Erudição se entregar... Teria sido a coisa mais falsa da história, e eu com certeza teria parado de ler Divergente. E por isso eu amei essa trilogia, porque ela é sincera, verdadeira e lógica.

    Além, é claro, dos livrinhos serem extremamente lindos! Gente, que coisinhas bonitinhas, compactas e robustas, com capas de cores vibrantes, e símbolos incríveis! Os personagens são demais, e apesar de ter ficado levemente... 'intrigada' com o fato de eu ter uma personalidade EXTREMAMENTE parecida com a do Tobias, eu não poderia ter amado mais essa trilogia.

    Obrigada, Veronica, por nos apresentar as facções, Chicago futurista e ter terminado o livro com essa sensação de continuidade, que nos dá a impressão que Tobias está em algum lugar por aí e a guerra entre GDs e GPs está prestes a estourar.

    Espero que tenham gostado da resenha e, especialmente, da trilogia. Mesmo.

    Até breve,

    Ana.

1 comentários :

  1. Olha... Sinceramente... Eu tô mega surpresa. E embasbacada com suas palavras. Eu confesso que estou com muito medo de ler, ainda mais por causa do spoiler sobre a morte de certa pessoa... Justo ESSA pessoa... Mas lendo o que você escreveu aqui, acho que já estou com mais coragem kkkkkk
    Sério, eu acho que vou mostrar esse seu texto pra todos os haters de Divergente. É genial, eu nunca conseguiria descrever um livro desse jeito. Sem spoiler algum mas contando de um jeito que deixa a gente mega curioso. Tenho que agradecer por ter lido isso, não é fácil terminar as sagas/séries, principalmente quando é uma dessas, incrível, devastadora e simplesmente perfeita.
    É isso :) até!

    Tributos que falam mal de Divergente, me aguardem! (Até porque, eu também sou tributo, aí a treta ganha mais emoção *-*)

    ResponderExcluir