18 de abril de 2014

O Tronco do Ipê - José de Alencar


E aí, leitores queridos e adorados! Estou de volta com a resenha de O Tronco do Ipê, do José de Alencar, que é meio desconhecido e tal (quem conhece o moço muitas vezes só lembra de Senhora ou Lucíola), mas que vale bastante à pena pra quem adora romances!

Se você curte romance, então pode adicionar O Tronco do Ipê à sua lista!

Aparentemente não há uma 'sinopse' de O Tronco do Ipê, do José de Alencar, então irei resumir brevemente o enredo do livro - sem dar spoilers, claro:

O livro tem como protagonista Mário, um jovem que foi criado na Fazenda Nossa Senhora do Boqueirão com uma dúvida na cabeça: se o Barão Joaquim, dono da fazenda e pai da pequena e estonteante Alice, havia realmente assassinado seu pai ou não. Aparentemente, o único que possui essa resposta é Benedito, um negro velho que mora numa cabana abandonada perto do 'assombrado e misterioso boqueirão', que já tragou a vida de tantas e tantas pessoas - inclusive do pai de Mário.

Agora que será de Mário? Dependendo de um homem que pode ter sido o assassino de seu pai? Só lendo para saber.


Autor: José de Alencar.
Editora: Editora Ática.
Ano: 1871 (1ª edição).
Minha Edição: 1977.
Número de Páginas: 151.
Minha nota no Skoob: 2/5 (regular).

    Como foi dito bem acima, esse livro fala sobre o dilema do jovem Mário que não sabe o que fazer de sua pacata vida: engolir o orgulho, e se deixar depender do possível assassino de seu pai? Descobrir toda verdade, tentando arrancar as afirmações da boca de Benedito? Aliás, será que Barão Joaquim realmente matou seu pai? Afinal de contas, o único que viu tudo foi o negro, o que é descrito por todos como um feiticeiro que faz pacto com o Demônio, que vendeu sua alma e por isso não morre nunca.

    De fato, o livro parece até realmente muito interessante vendo por esse lado: o mistério, a angústia, o dilema interior que aflige o peito. Mas antes de mais nada eu devo lembrar que esse livro foi escrito no período romântico da nossa literatura o que significa que a escrita, a história, os detalhes... Tudo será definido pelo modo romântico de se escrever (com direito à exaltação da mulher e toda aquela palhaçada de sempre), o que também significa que, assim sendo, teremos o romance de Mário com alguma outra personagem em primeiro plano.

    Portanto, minha primeira dica da vida é: se não gosta desse tipo de leitura, como eu, nem chegue perto do livro. Leia o que eu escrevo, meu caro (ou minha cara), eu não gosto nem um pouquinho do período romântico e nem das histórias românticas mais clichês, e quase morri ao ler esse livro. Na verdade, enrolei a leitura por alguns meses a fio - acredite se quiser - porque esse foi o meu maior obstáculo para essa leitura: o romance sempre em primeiro plano, essa coisa entediante que é ver como as pessoas tramam contra o romance e todas aquelas coisas de sempre. É entediante. Quase como uma "Malhação" do século XIX.

    
(observem as letrinhas, a página amarelada, a separação do capitulo. Não é incrivelmente antiquado? Dá um clima e tanto para começar a história! Acho que uma adaptação com palavras atuais não traria o mesmo efeito)



    Assim sendo, este livro se tornou um dos livros mais entediantes que já li em toda a minha vida (acho que logo atrás vem Senhora, do mesmo autor, e talvez São Bernardo, do Graciliano Ramos - mas como essa história parece um pouquinho melhor, pretendo dar uma segunda chance).

    Mas uma coisa que preciso deixar clara é que a linguagem do livro não é um problema. Pode até ser para alguns leitores que não conseguem suportar esse tipo de escrita tão, tão absurdamente antiga (com palavras tão diferentes quanto "cousa"), mas para mim foi algo muito normal. Na verdade, até muito bom! Digo, se você pega um livro antigo para ler, um livro que se passa numa época bem antiga (com a história por volta de 1850), você espera, no mínimo, uma linguagem bem antiquada nas falas dos personagens, correto? A questão é que, para mim, é ainda mais legal quando o modo de escrever do autor muda todo, até mesmo para frases normais, parágrafos descritivos, coisas simples. É muito legal ver que todo o ambiente da história muda quando simplesmente o autor escreve todo ambientado na época de seu enredo.

    Como acontece, por exemplo, com o livro 'A Dádiva da Escuridão' (primeiro de "Presas", do nosso autor parceiro Marco de Moraes), que é ambientado na época medieval, com seres da escuridão, morte, espadas e castelos. Quando lemos 'A Dádiva da Escuridão', caímos totalmente no clima do livro porque o autor, Marco, escreve de uma forma tão lírica e poética - quase feudal! - que nos transporta diretamente para a época do livro. E isso é maravilhoso, porque tudo está ambientado.

    Aliás, isso me irrita um pouco em livros atuais, cujos enredos são baseados em épocas bem distantes da nossa. Infelizmente, na maior parte desses livros a linguagem só é antiga nas falas, mas no restante da história é simplesmente comum. Isso me deixa um pouco decepcionada, porque eu imagino que o autor deva mergulhar MESMO no livro e escrever como se pertencesse à época descrita! (ok, admito que se o livro fosse baseado em 1500 as coisas seriam meio complicadas, mas não custa nada sonhar q).

(não estranhem a borda do livro. O meu exemplar é bem velhinho mesmo :/ )

    Ainda falando sobre a ambientação da história, outra coisa que me deixou meio encantada (e que sempre me deixa) foram as páginas amareladas. Gente, eu adoro páginas amareladas, porque elas dão uma sensação tão gostosa de aconchego, de proximidade, de 'envelhecido'. Pra mim, livros com páginas amareladas têm uma coisinha a mais (além do que, páginas muito brancas às vezes refletem muita luz e isso faz meus olhos doerem).

    Também gosto do fato de que os capítulos não são separados por uma página, mas por linhas espaçadas. Gosto disso desde que li Dom Casmurro, do Machado de Assis. Eu gosto de capítulos separados assim, por linhas, porque dá uma sensação diferente de capítulos separados por páginas (apesar de que desse jeito acho que fica mais organizado e tal).

    Mas, mudando ligeiramente de assunto, nem mesmo esses pequenos 'detalhes' - como a capa, que é deveras interessante, aliás - foram capazes de aguçar a minha curiosidade sobre o livro, em si, ou sobre continuar a leitura. Quero dizer, esse meu obstáculo do romance em primeiro plano foi a maior dificuldade de todas para eu conseguir me concentrar na história, para sentir vontade de ler mesmo.

    Acho que se a história fosse "recriada", no sentido de "algum autor pegar essa mesma história, mas reescrever para os tempos atuais", talvez ficasse algo realmente muito bom. De verdade. Só que, parando para pensar, não seria mais O Tronco do Ipê, porque esse livro foi criado na temática Romântica, quando os leitores procuravam romances em primeiro plano, quando eles queriam ver essa sutileza na história.

    Então, se fosse recriada... Não seria a mesma história (apesar de que, talvez, ficasse até melhor. Se tirasse o romance... Talvez eu conseguisse prestar atenção em algo sem ficar revirando os olhos ou morrendo de tédio). E acho que nem mesmo uma adaptação teria o mesmo efeito, porque não ficaria bom o suficiente - sem o linguajar antigo e tal.

(a contra capa. Acredito que esse rosto seja do Benedito (?), ou do Joaquim, o Barão, ou talvez do próprio Mário. Não sei, sou péssima com fisionomia. De qualquer forma, ali ao lado vem uma série dos clássicos da nossa literatura: o que eu achei interessantíssimo, porque quem gosta de clássicos, pega umas dicas bem legais ali :D )

    De qualquer forma, se você gosta de histórias românticas e consegue aguentar uma linguagem bem antiga, bem antiga mesmo... Pode pegar emprestado, comprar, baixar em PDF (será que tem, gente?), porque você vai adorar.

    Falando nisso, aqui vai uma pequena curiosidade para vocês: o Tronco do Ipê, do Alencar, foi adaptado para uma telenovela em 1982, escrita por Edmara Barbosa, que teve como protagonistas Orlando Barros (Mário) e Silvana Teixeira (Alice).

    Espero vocês aqui na semana que vem, com mais uma resenha clássica para vocês,

    Ana.

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