Faz algum tempo que li esse livro, de fato, mas posso assegurar que a resenha não terá nenhuma falta de 'emoção' ou algum detalhe perdido pelo tempo porque esse livro é simplesmente tão fantástico... que eu não consigo esquecer nenhuma palavra contida nele.
Acho que, primeiro, eu devo dizer que escolhe Jonas Vai Morrer pelo título no site da editora parceira Chiado. Gosto de títulos marcantes, seguidos de capas bonitas e slogans fortes; dessa forma, "Jonas vai morrer" foi um prato cheio para minha escolha 'superficial'.
Além disso, devo dizer que de cara já amei o fato do livro ter as páginas de capítulos pretas. Que coisa sensacional.
"Todas as novelas têm um novelo. Todos os crimes têm o seu repertório de culpas. Autores de folhetins, em específico, e criminosos, em geral, trapaceiam ao revelar sempre o que interessa, um truque para esconder o que importa. A dissimulação é o vento que sopra na vela desta galera, o combustível desta nave. Entre se quiser, acomode-se num canto. A viagem não vai ser tranquila"
Autor: Edson Athayde
Editora: Chiado
Ano: 2014
Nota: 4/5
Devo dizer que me surpreendi muito com o livro. Muito mesmo. O último exemplar que peguei da editora Chiado por "Café Turco" e, admito, o final e o desenrolar de tudo me deixaram um tanto quanto decepcionada e aí... Meio que transferi esse sentimento para o próximo da fila [no caso, Jonas Vai Morrer quando finalmente o escolhi].
Quer dizer. Claro, eu sei que EU vi o título e EU escolhi o livro que absolutamente parecia não ter nada a ver com o último lido, mas o que poderia fazer? Entrei sem muitas expectativas e... me surpreendi de uma forma deliciosa.
Acho que eu nunca li um livro de uma escrita tão... profundamente sombria, instigante e poética.
Capa igualmente ótima!
Em primeiro lugar, essa edição é simplesmente linda. A edição do texto está ótima, todo justificado, e também com as páginas negras evidenciando o começo de cada capítulo. A fonte é ótima, até a grossura da folha [um pouco mais grossa que o normal] é maravilhosa, porque dá uma sensação de aspereza diferente.
Eu gosto de evidenciar esses "detalhes" estéticos sobre o livro porque sei que ele não é só a história. Digo, quando compramos o livro estamos pagando pela história, e pela edição, e pela revisão feita, e pela marca da editora e muitas vezes pelo nome da pessoa. E eu adoro ver um livro com essas caracteristicas estéticas realmente bonitas, porque além de chamar atenção... Bem, não quero ter livros feios na estante, certo?
De qualquer modo.
Adorei a fonte e o texto todo justificado e a narrativa em itálico e as páginas negras. São detalhes sutis [ou nem tanto] que fazem a diferença, sim, e deixam o leitor um pouco mais inclinado a lê-lo.
Além do que... o livro é de Portugal! Eu nunca havia lido nada atual do país, e preciso dizer que achei o máximo passar pelas páginas com 'factos'! Adoro ler livros em suas línguas originais, e ler um livro de Portugal me deixou bastante contente.
Essa é a página em preto. Sempre que iniciamos um capítulo, temos uma página negra com algum dizer bem grande.
Agora sobre o que está me deixando ansiosa: a história e seus personagens e a escrita do autor, porque eu realmente adorei esses três e preciso falar logo sobre cada aspecto.
A escrita é algo diferente, não somente por ser de outro país, mas também por ter toda uma forma poética de ser. É dramática, taciturna, sombria. Deixa o leitor no clima mais perfeito para a história igualmente escura, e meio que 'cobre' o livro todo como se fosse uma névoa. E eu gosto particularmente disso, porque, bem, se a escrita do autor fosse muito informal ou leve para o tipo de história... Acho que o livro não teria tanta 'graça', ou eu não teria gostado tanto.
Na realidade, penso que se a escrita fosse mais leve, provavelmente eu teria achado o livro superficial, já que não teria todo o clima obscuro e sombrio, que acompanha todo o enredo [e essa é uma coisa que não me faz gostar tanto assim de livros mais "leves" e que pretendem tratar de temas pesados. Eu gosto de escrita pesada].
E certamente isso fez toda a diferença para com a história e seus personagens, que são basicamente incríveis.
Tudo começa com um rapaz, Pedro, que está lendo um tipo de diário dque fora deixado em suas mãos. Este Pedro trabalha num manicômio, como enfermeiro, e ajuda muitos pacientes de lá. Apesar de ser o protagonista, o enfermeiro não tem muita história para contar, e nós acabamos entrando com ele no universo do diário.
É como se estivessemos lendo um livro DENTRO de um livro! [acho isso simplesmente sensacional].
E dentro desse diário, acompanhamos a história de Jonas, que... não fazemos ideia de quem seja na vida real. Quem seria Jonas? Onde Jonas está? Jonas vai mesmo morrer? Morrer do quê?
E acho que isso que começou a me empolgar desde o começo porque, assim como eu, Pedro - o protagonista - também estava muito curioso sobre a história de Jonas e sobre o tal caderno; pesquisando durante todo o livro, lendo mais e mais trechos... Se aventurando nas palavras do caderno misterioso do manicômio até que nós, e Pedro, descobrimos toda a verdade.
Claro, não quero dar spoiler a ninguém, mas eu realmente preciso dizer que esse livro tem um final sensacional e que EU gostei. E casado com o enredo tão interessante... Acho que esse livro foi simplesmente um dos melhores da Chiado que já li até agora!
Acompanhamos Pedro durante toda a narrativa de uma forma tão sombria... Sempre 'acima' da névoa que é a escrita de Edson, olhando para a história do real protagonista e ao mesmo tempo para a história de Jonas, o protagonista do diário/caderno. E eu acho isso simmplesmente fantástico, porque não são todos os livros que conseguem fazer isso dar certo - normalmente, a segunda história é muito pobre, ou algo assim - e eu lembro de só ver isso com sucesso em Watchmen [aquele pirata...].
Eu gostei muito mesmo da história, e eu recomendo a todos que estiverem lendo esta resenha porque o livro é muito bem escrito, muito bem planejado! Os personagens não são exatamente cativantes; na realidade, não existem muitos personagens - temos os da primeira história, que não chegam a cinco, e da segunda história... que certamente não chega a cinco também - e eles são muito bem escritos. São personagens comuns, pessoas normais, e que acabam cativando o público pela angústia que sofrem ou pela morbidez da vida.
Acho que Pedro seria o personagem mais comum e superficial do livro, apesar de ser o protagonista, o que é bem interessante, já que essa personalidade dele mais "parada" dialoga de forma perfeita com a personalidade de Jonas, que é o "alvo" da seguda história - que já tem uma personalidade mais conturbada.
Não é como se fosse um dos livros de Lionel Shriver [que eu considero como tendo os personagens mais psicologicamente bem escritos de todos que já li] ou de Victor Hugo [com os personagens mais humanos, mais reais, mais impossivelmente feitos de papel que eu já vi], mas são personagens próprios... Que se moldam a uma história [de Jonas] dentro da história.
De fato... Jonas Vai Morrer é um dos melhores livros que já li da Chiado até agora e não me arrependo nem um pouco de tê-lo pedido.
Obrigada Chiado, por ter publicado esse livro.