15 de setembro de 2013

Precisamos Falar Sobre o Kevin - Lionel Shriver


    E aí, gente, tudo ok? Aqui quem fala é a Bia e digo que precisamos falar sobre o incrível - e assustador - livro de Lionel Shriver; Precisamos Falar Sobre o Kevin. Um livro magicamente maravilhoso sobre o qual todos precisam falar e deveriam ler.

    Sétimo romance de Lionel Shriver, Precisamos Falar Sobre o Kevin, vencedor do Prêmio Orange de 2005, tornou-se um best-seller mundial que alçou a autora ao status de fenômeno literário. Aclamada por público e crítica, a história da mãe que tenta entender os motivos que levaram o filho adolescente a cometer um massacre na escola teve sua adaptação para o cinema dirigida pela premiada cineasta escocesa Lynne Ramsay. O filme, que traz no elenco Tilda Swinton, John C. Reilly e Ezra Miller, estreou na mostra competitiva de Cannes e foi eleito o melhor do Festival de Londres. Por sua interpretação da protagonista, Eva, Tilda Swinton foi indicada ao Globo de Ouro de melhor atriz.

    Ao sacudir o leitor entre culpa e empatia, retribuição e perdão, Precisamos Falar Sobre o Kevin discute casamento e carreira; maternidade e família; sinceridade e alienação. Denuncia o que há de errado com culturas e sociedades contemporâneas que produzem assassinos mirins em série e pitboys. Com isso, a autora nos carrega em um thriller psicanalítico no qual não se indaga quem matou, mas o que morreu. Enquanto tenta encontrar respostas para o tradicional "onde foi que eu errei?", a narradora desnuda, assombrada, uma outra interdição atávica: é possível odiarmos nossos filhos?

Editora: Intrínseca.
Ano: 2007

    O livro conta a história de Eva Khatchadourian, uma antiga mulher de negócios, dona de uma empresa de turismo – A Wing&A Prayer – que estava acostumada a viajar o mundo inteiro para escrever seus guias para viajantes sem muito dinheiro no bolso, mas que gostariam de se divertir e comer num lugar decente. Durante a narrativa de Eva, vamos conhecendo outros dois importantes personagens dessa história: Franklin, o americano padrão, marido de Eva, e Kevin, o psicopata, filho do casal.


    A narrativa de Eva é algo suntuosamente interessante e é feita por meio de cartas. Sendo assim, cada capitulo seria uma carta enviada para seu ausente marido, Franklin – na qual ela começa com o dia, mês e ano, e um ‘querido Franklin’ em itálico. Poético, até.

    Eva é uma narradora realmente muito boa, na minha singela opinião, pois ela descreve os personagens não somente por suas características físicas, mas também pelo emocional e psicológico. A cada momento, ela faz uma reflexão – bem interessante, diga-se de passagem – sobre um fato ou alguém. E com uma bela dose de sarcasmo e ironia, é claro.

    E ao longo dos capítulos, vemos o decorrer de toda uma vida em ‘família’ – acompanhamos Eva e Franklin desde o momento em que eles discutem sobre ter ou não um filho até a terrível tragédia que abala a vida da família Khatchadourian: um massacre escolar, cujo culpado é... Kevin.

    Eu não conseguiria escrever uma resenha sobre esse livro sem dar uma atenção especial ao ‘personagem principal’ – de certa forma. Kevin é um psicopata, isso fica claro desde, bem, desde seu nascimento, e o modo como Eva o analisa é algo simplesmente aterrorizante. Cada cena, cada fato, cada acontecimento que envolve o garoto – desde que tinha meses de vida – me deixaram sem ar, aflita e com um tremendo ódio.

    Se fosse eu, já teria me livrado daquela criança há muito, muito tempo – ou teria dado no pé.

    Acredito que o principal dilema de todo o livro não seja a questão de “por que ele matou seus colegas de classe, a professora e um faxineiro?” e nem “por que daquele jeito?”, mas o grande dilema, a grande questão do livro é: “A gente pode odiar nossos filhos?” E eu não falo ‘odiar’ naquele sentido de ‘ficarmos com raiva por um momento, espumando pela boca’.

    Eu digo ódio, raiva, desprezo. Será que é possível uma mãe sentir esse tipo de coisa pelo seu próprio filho? Sentir vontade de se jogar da ponte, só para não ter que olhar para a cara do moleque, sentir vontade de matá-lo com um travesseiro, abandoná-lo num parque escuro, arremessá-lo numa parede com força, tentar matá-lo?

    Isso é possível?

    Esse, sem dúvidas, foi o grande dilema que me marcou durante a leitura. Enquanto observava Eva fazendo suas visitas semanais a Kevin na prisão e lia sobre os acontecimentos repugnantes que rondavam o garoto, eu tive quase certeza de que... Se fosse meu filho, eu o odiaria com todas as minhas forças.

    Eu o mataria, se tivesse chances.

    Mas esse não é o único lado de Kevin. Eva também nos ensina que psicopatas não têm um pingo de sentimentos, mas também são absurdamente inteligentes. E eu admiro isso profundamente em Kevin. Ele era tão inteligente, tão incrivelmente esperto que... Você chega a admirá-lo – não pelo o que fez, é claro – de certa forma.

    Não pretendo dar nenhum spoiler, é claro, e somente digo uma coisa: Leiam esse livro. Por favor. Ele precisa ser lido, entendido, admirado, odiado. Foi o único livro, o único, que me fez sentir ódio, um tremendo ódio, de um personagem.

    Pior. Foi o único livro que me deixou com medo. Medo mesmo. Medo de verdade.

    Medo do Kevin.

    É um livro altamente incrível que – preciso falar sobre isso – me deixou sem sono e um pouco modificada por dentro. Esse é um daqueles livros que mexem com seu interior, modifica de uma forma, que é impossível retornar ao que era antes.

    Você sempre vai pensar “Kevin falaria isso” ou então “Kevin fez isso assim”. E sempre que vir um mapa vai pensar em Eva, em como ela amava viajar pelo mundo – aliás, esse livro me abriu o apetite para viajar para lugares exóticos! – e explorar cantos que ninguém nunca foi. Vai lembrar Franklin com seu rosto bronzeado e seu jeito divertido de americano padrão.

    E, se você deseja ter filhos, bem, pense um pouco antes de tomar a decisão, ok?

    Lembre-se de Kevin.

    Você seria capaz de lidar com um filho como ele?

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