Olá, aqui é a Ana, novamente, e, dessa vez, escrevo uma
resenha sobre um dos livros mais polêmicos – e incrivelmente complexos – de todos
os tempos: Lolita.
Para quem não sabe, Lolita foi publicado, pela primeira vez,
em 1955 e rejeitado diversas vezes por
dezenas de editoras antes de, finalmente, ser aceito pela antiga ‘The Olympian
Press’. O polêmico livro acabou dando origem a duas polêmica versões
cinematográficas: uma de 1962, por Stanley Kubrick, e outra de 1997, por Adrian
Lyne.
Este livro, aliás, deu origem a duas ‘gírias’ sexuais:
Lolita e ninfeta (quem ler o livro, vai entender o que elas querem dizer).
Bem, vamos à história. Preparem os estômagos, meus “chéries”.
“O que me leva à
loucura é a natureza dupla desta ninfeta – talvez de todas as ninfetas; essa
mistura, em minha Lolita, de uma infantilidade terna e sonhadora com uma
espécie de estranha vulgaridade, derivada dos rostinhos atrevidos que aparecem
nos anúncios e nas fotos de revistas, das rosadas imagens de criadinhas
adolescentes...”
Editora: The Olympian Press
Ano: 1955
Caso ninguém conheça este livro – o que eu acho um pouco
difícil, pois todos, pelo menos uma vez, já ouviram falar do trecho “Lolita, luz de minha vida, labareda de minha
carne. Minha alma, minha lama” – eu devo avisar: não é um livro qualquer,
sobre um tema qualquer, que só é considerado ‘polêmico’ por ter sido publicado
numa década menos “liberal” que a nossa.
Não.
É um livro com um tema ainda mais desgastante que Precisamos Falar Sobre o Kevin, de Lionel
Shriver – caso também nunca tenha ouvido falar, ou tenha interesse, há uma
resenha sobre este exemplar aqui no blog – é um livro com uma história
intensamente... repugnante.
É um livro sobre pedofilia, cujo narrador-personagem não é
ninguém mais, ninguém menos que o próprio pedófilo: Humbert Humbert.
Acompanhamos
a história de Humbert Humbert, um francês que vai morar na Nova Inglaterra, Estados Unidos, e de cara encontra com Lolita – na verdade,
isso está mais para a página 30, 40 – a
ninfeta. Logo de cara, Humbert – que se declara para si mesmo, diversas vezes,
que é um pedófilo – se encanta com a menina, de somente 12 anos e não consegue
fazer outra coisa senão ter sonhos eróticos com ela, e tentar, de alguma forma,
abusar da garota.
Claro que, jogando assim no ar a situação, com tais palavras,
o leitor de cara ficaria... Enojado com Humbert! Oras, o homem já tem lá pelos
40, 50 anos quando vê Lolita pela primeira vez e somente o fato de ele imaginar
maneiras de se encontrar sozinho, na casa, com a menina assusta a mente de
muitas pessoas, mas... Não é somente isso.
Por favor, leitores, não vão embora! Não deixem a repulsa
cegá-los, porque o livro não é somente isso. Humbert, por mais degradante que
seja, se apaixona por Lolita – e a menina, como logo podemos notar, não é nenhuma
santinha. Pelo contrário:
Lolita é uma ninfeta.
A narrativa de Vladmir Nabokov é algo mais do que genial.
Ela simplesmente faz seus olhos grudarem na história e não deixa, não permite
que você saia mais! O enredo nojento é organizado em capítulos inconstantes: às
vezes eles têm páginas e páginas, e às vezes podem chegar a somente meia
página.
E passando pelas páginas, chegando até o final, nós,
leitores, nos deparamos com um dificílimo dilema a resolver: ficamos ou não
ficamos ao lado de Humbert, o Pedófilo? O homem que desgraçou – em parte – a vida
da pobre menina de 12 anos, que queria somente saber de dançar, ler revistas
consumistas e pegar Sol em seu jardim.
Rejeitamos tudo o que acontece e ligamos somente para o fato
de que aquele Humbert nojento abusou, durante quase todo o livro, de uma
indefesa menininha?
Ou aceitamos seus argumentos e ficamos do seu lado? Afinal
de contas, ele amava Lolita – sim, é absurdo, porém é a mais pura verdade.
Lolita, Lolita, sua alma, sua lama.
Confesso a todos que, eu mesma, até agora, não sei
exatamente o que pensar sobre Humbert – e acho que prefiro não fazê-lo. Usarei a
mesma técnica que usei para Kevin: a ignorância e esquecimento.
Humbert, apesar de tudo, amava aquela menina. E ela, oras,
não era nenhuma santinha.
Era uma ninfeta. Era Lolita. Lo.Li.Ta.
Não tenho mais o que dizer. Acho que já está na hora de
tentar não gastar meus neurônios pensando, inutilmente, em que lado deveria
ficar. Afinal de contas, este livro foi escolhido o mais polemico de todos
justamente por enlouquecer os leitores e não deixa-los pensar em qualquer outra
coisa, senão em Dolores Haze e Humbert Humbert, os amantes.
Fico, na realidade, extremamente feliz por ter conseguido
comprar este exemplar – a versão clássica, de capa dura! – por somente cinco
reais, numa feirinha do Rio, na Tijuca. Uma tremenda sorte, um tremendo dilema:
pedófilo nojento ou apaixonado esquizofrênico?
E Lolita? Porque todos somente julgam Humbert e não dão a
mínima para a garota? Acho impressionante o fato de que, depois de ler a
história, muitos – a maioria na realidade – coloca logo Lolita de lado, como
sendo uma pequena e indefesa vítima.
Na realidade, ela não o era. Lolita podia ter somente 12
anos, mas era mais inteligente do que muitos. Era mais bonita do que muito. Era
mais apaixonante do que muitos. Como resistir àquela pele bronzeada? Ao sorriso branco e
doce? Aos olhares que ela lançava, e que as outras meninas não sabiam fazer
igual?
Ah, Lolita. Você enlouquece qualquer pessoa – seja por sua
alma ninfeta, seja pelos dilemas e questões que nos traz.
“Lolita, luz de minha
vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da
língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no
terceiro, contra meus dentes. Lo. Li. Ta.
Pela manhã ela era Lô,
não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única
meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era
Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita”
Eu li o livro e quero muito assistir ao filme.
ResponderExcluirGostei da sua resenha. E também fiz resenha para o meu blog. Caso queira conferir, o link está logo abaixo.
As questões que você traz sobre qual lado ficar, realmente são complicadas, mas como você ressaltou, a "Lolita" não é nenhuma santinha. Eu acho qeu ficaria do lado do Humbert Humbert, afinal ela a amava.
http://www.minhassimpressoes.blogspot.com.br/2013/07/resenha-do-livro-lolita-vladimir-nabokov.html